quarta-feira, 8 de agosto de 2012

A que serve a ecologia.


“É precisamente no terreno da ecologia que podemos delinear 
a demarcação entre a política da emancipação e a
política do medo na sua forma mais pura. De longe, a versão predominante
da ecologia é a da ecologia do medo – medo da catástrofe, humana ou
natural, que pode perturbar profundamente ou mesmo destruir a
civilização humana. Essa ecologia do medo tem todas as oportunidades de
se converter na forma ideológica predominante do capitalismo global, um
novo ópio das massas que sucede o da religião. Assume a função
fundamental da religião, aquela de impor uma autoridade inquestionável
que estabelece todo limite. Apesar de os ecologistas exigirem
permanentemente que mudemos radicalmente nossa forma de vida, é
precisamente isso que subjaz a essa exigência no seu oposto, isto é, uma
profunda desconfiança em relação à mudança, em relação ao
desenvolvimento, em relação ao progresso: cada transformação radical
pode conter a consequência inestimada de detonar uma catástrofe. É
exatamente essa desconfiança que converte a ecologia em um candidato
ideal para tomar o lugar de uma ideologia hegemônica, pois faz eco da
desconfiança em relação aos grandes atos coletivos.” 

Trecho entrevista de Zizek para revista Unisinos.



 http://scienceblogs.com.br/discutindoecologia/2011/05/slavoj_zizek_e_o_movimento_
amb/






Acho que a cissão com natureza é temerária, colocar a cultura, e no fim a ciência, como possibilidade de distanciamento daquela, acreditando que seria a única forma de romper a inserção do homem no natural, a última consequência, seria afirmar a dicotomia, na procura da imortalidade.

Mas é no contra-ponto, na necessária ilusão que vivemos para entender a realidade que quero me ater, é nisso que se afirma o homem, e daí vem o sentido, mesmo que temporário da sua vida, e isso não pode ser tirado, mesmo diante da tragédia, mesmo da impossibilidade de vence-la. A ousadia dele seria cobrar essa afirmação, sem ser tolhido por qualquer moral ou ideologial, seja cultural ou natural, acho que aí que está o seu incentivo.


Ainda neste ponto, coloco a questão social, a vida em sociedade foi condição natural, até mesmo a partir dos instintos, para sobrevivermo na natureza, não como inimiga, mas como ambiente, como cenário de nosso ato. Assim, mesmo com a tragicidade da vida, há de se ter alguma resistência, se não pela tentativa de se vencer o fenômeno, que seja pelo menos para reduzir suas sequelas, senão nem importa a ciência, bastaria nos entregarmos ao destino. E não foi assim que aqui chegamos.

No final, o que temos mesmo é nossa cultura, e uma certa responsabilidade por sermos testemunha de toda diversidade, de toda impossibilidade, considerando o instante de equilíbrio casual,e de alguma forma, não sermos o estopim de qualquer coisa que antecipe a nossa destruição. Chegar ao abismo sem inicialmente querer saltar.