segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Todos os poemas têm lobos dentro I.


"A Queimada":

"Queime tudo o que puder:
as cartas de amor
as contas telefônicas
o rol de roupas sujas
as escrituras e certidões
as inconfidências dos confrades ressentidos
a confissão interrompida
o poema erótico que ratifica a impotência
e anuncia a arteriosclerose
os recortes antigos e as fotografias amareladas.
Não deixe aos herdeiros esfaimados
nenhuma herança de papel.

Seja como os lobos: more num covil
e só mostre à canalha das ruas os seus dentes afiados.
Viva e morra fechado como um caracol.
Diga sempre não à escória eletrônica.

Destrua os poemas inacabados, os rascunhos,
as variantes e os fragmentos
que provocam o orgasmo tardio dos filólogos e escoliastas.
Não deixe aos catadores do lixo literário nenhuma migalha.
Não confie a ninguém o seu segredo.
A verdade não pode ser dita".

Lêdo Ivo.


É, Lobo Ivo, concordo com minha alma.
Mas os caninos devem mostrar seus dentes no átrio e na ágora,a verdade como cinzas alvejantes ao vento.

5 comentários:

  1. a verdade não pode ser dita porque ela é um gesto, uma atitude...o resto é burocracia.

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  2. Os caninos tem que mostrar seus dentes nos átrios e ágoras, a verdade tem que ser jogada como cinzas alvejantes.

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  3. Bela escolha ,poema matador.Gostei do blog, conheci via Sávio.

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  4. Sávio e você, madeira forte, são generosos.

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  5. Um dia também no adro... Com a cinza dos heróis.

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